João nas Nuvens lança EP de estreia: O que você vê nas nuvens?

Reunindo canções compostas entre 2018 e 2023, João Alberto Lajús, o João nas Nuvens, lança seu primeiro EP, O que você vê nas nuvens?, marcado por dois momentos significativos: sua reconexão com a música após sete anos em hiato, e o período pandêmico sob governo Bolsonaro. Uma mistura de MPB, folk e indie com raízes fincadas na relação do artista com a poesia, a obra formada por seis faixas trata de solidão, de amor e de um futuro possível. Entre as participações especiais estão as cantoras e compositoras Laura Tereza e Amanda Cadore, nomes emergentes da cena catarinense. Ouça aqui e assista ao clipe do single do disco, Fluir - aqui.

Crédito: Aprimorando 


Os caminhos durante a formação em Medicina mantiveram João longe da música.


"Recuperar essas sensações e sentimentos indispensáveis na minha vida que são compor e tocar foi algo que reacendeu uma chama por aqui", conta o músico que se divide entre a arte e a cardiologia. A canção que marca este reencontro é a faixa três do álbum, Alto Lá, composta em 2018. A partir daí, a relação apenas se estreitou. Ao término da formação, retornou a Chapecó, sua cidade natal, para focar nas gravações do disco. Mas os planos foram interrompidos pela pandemia de COVID-19, que levou João à linha de frente das UTIs.


Por Rafael Panegali

Entre o caos e a incerteza do que seria o futuro, João nas Nuvens seguiu compondo. A colaboração com Amanda Cadore que resultou na faixa Fluir surgiu a partir de uma videochamada. "Essa participação foi bem especial para mim. Fluir foi uma canção que compus durante a pandemia e que não conseguia finalizar, principalmente o refrão. Através das redes sociais, a Amanda lançou um convite para artistas que quisessem compor à distância. Foi o que fizemos, e ela resolveu em poucos minutos a questão do refrão. Nos conhecemos pessoalmente somente na gravação da música, em 2023. Foi uma troca muito enriquecedora", divide.


A arte do EP é assinada pelo ilustrador Rafael Panegali. "A ideia por trás da capa foi criar um cenário com elementos que remetem a várias referências. O ambiente criado é um que acaba de ser abandonado por um casal. Há o vinho derramado, os casacos pendurados, o violão em um canto, o céu aberto no topo da sala e o castelo nas nuvens. Nós buscamos uma proposta onírica", conta João, que também explorou esse conceito no videoclipe de Utopia, feat. com Laura Tereza.


Show de lançamento


O show de lançamento do EP será no Teatro do Sesc Chapecó, dia 11 de Agosto, sexta-feira, a partir das 19h30. “A ideia é reunir todo o pessoal que participou das gravações, inclusive os feats da Laura Tereza e da Amanda Cadore, mas ainda não saberemos se será possível. A banda será completa com bateria, baixo, teclado, sax e trompete, além de dois violinos, viola d' arco e violoncelo. Já o repertório será o EP e mais outras canções autorais: algumas já lançadas, outras que virão”, comenta João. A entrada é gratuita.


Faixa a faixa

Acordes no violão e no piano abrem o EP com a faixa Fluir, feat. com Amanda Cadore, que colaborou na composição por meio de videochamada, ainda no período de pandemia e de governo Bolsonaro. Somam-se à canção os metais que a fazem crescer até o seu questionamento central: "como gritar que o meu destino não quer ter juiz?". "Essa é uma música que vislumbra um futuro de felicidade sem amarras", diz João. E, ainda, Fluir é o single de lançamento do disco e traz um vídeo que ilustra os momentos de gravação: “Foi inspirado em um clipe que o Chico Buarque lançou recentemente com a neta, da canção Dueto. A música fica tocando ao fundo e o pessoal gravando. A ideia, então, foi mostrar um pouco do processo que passamos para entregar a canção, que é muito representativa para mim porque conta com quase todo mundo que participou da gravação do disco em uma única canção. Cada um depositando um pouco de si, lapidando a matéria bruta”.

Na sequência surge a contemplativa Vertentes Vitrais em busca de histórias de amores perdidos pelas grandes cidades. 


"É uma reflexão sobre a solidão acompanhada nas capitais. Há muita gente, mas muita distância. O nome é inspirado nos vitrais das igrejas pelas quais eu passava rumo ao trabalho, em Porto Alegre. Um deles estava quebrado e vertia água da chuva", conta o artista sobre a inspiração.


A terceira faixa, Alto Lá, é a que marca o retorno de João Alberto Lajús à música após um hiato de cerca de sete anos. "Essa canção me tirou de um longo inverno sem compor. Tem este significado especial para mim. E fala sobre um casal separado, sobre o anseio do reencontro. Neste momento eu escutava muito Belchior, o que deve ter me influenciado de alguma maneira."


Manhãs de Vento é outra faixa que surgiu durante a pandemia em busca de novos ares, expondo absurdos do governo vigente à época. "Essa é uma música sobre esperança, composta em tempos sombrios com o desejo de imaginar um futuro em que a cultura volta a ser preponderante e traz consigo dias melhores, dias estes que chegarão 'em marés de luz, em manhãs de vento'", divide.


A penúltima canção, Utopia, que é um feat com Laura Tereza, reúne referências dos escritores Eduardo Galeano e Herman Hesse, e que teve clipe lançado antecedendo o EP.

 

 Marcada por arranjos de um quarteto de cordas, "a música aborda a temática do caminhar utópico, para que não se deixe de caminhar. É sobre a preparação incessante do poeta, que passa noites em claro tentando escrever o que o outro jamais vai ler", afirma João.


Sobre a Gravidade fecha o EP com romance, inspiração em David Bowie e arranjos de cordas que criam uma espacialidade melancólica. "A canção nasceu após eu revisitar e escutar na íntegra a discografia do David Bowie. A letra fala sobre um amor talvez impossível, transplanetário, como aquele que ele narra em 'Space Oddity', sobre um astronauta que não sabe se vai conseguir retornar e ver a sua família de novo", revela.


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