Dossel lança ao mar das novidades de 2023 seu segundo disco, intitulado “Badoque”

Assim como já vinha demonstrando no seu trabalho anterior, suas composições clareiam uma forma de enxergar o mundo e sentí-lo que parece partir, talvez, não de um porto, mas do alto de um farol. Já na primeira faixa, “Filho da aldeia”, parceria com Jam da Silva e Pai Guga, fala de uma tal “criança que nos devora”. O renascimento vem de dentro, junto a um senso de comunhão. A saudação inicial feita aos povos originários da floresta soa um tanto ingênua, mas contém uma verdade incontestável: não é amanhã, é hoje que o futuro nos pede que pensemos nele através do passado, da ancestralidade. E assim está dado o fundamento que margeia não só a lírica, mas também o leque de referências rítmicas do disco. 


Divulgação 

A imersão musical de Dossel, projeto do compositor e produtor cultural e musical Roberto Barrucho, mergulha no jazz instrumental afrobrasileiro de fino trato em “Marimba” e na questão existencial em “Lembrança de céu”. Essa primeira metade do disco bota a gira para girar com “Odé” e “Capoeira e sal”. A homenagem (ou prece) ao orixá caçador é parte essencial do trabalho, já que seu instrumento dá nome ao disco e ilustra a arte da capa. A canção que vem em seguida é uma atualização da ginga do canto de capoeira que cria mais um caminho de retratar essa forma de expressão cultural nascida da escravidão, mostrando um outro percurso a partir da maneira como os afrosambas a trataram. Aqui, são os beats e programações que tecem sua roupagem musical.  


“Transpasso” é um interlúdio que precede a faixa mais pop do disco, “Deixa”. Cantada por Silvia Machete, a música é um bolero eletrônico envolvente e contemporâneo. “Porto” é o mais recente single lançado que precede a estreia do disco e tem participação da cantora Micah, figura de destaque da música independente da Zona Oeste do Rio de Janeiro. A alusão poética ao espaço que conecta terra e mar é tanto literal, quanto alegórica - basta ver que a capa que ilustrou o single traz uma fotografia das docas do porto carioca. 


Segundo o próprio Barrucho, a penúltima faixa, "Clarão", é a música que mais representa a intensidade do caminho traçado na obra, que passeia por momentos de luz e sombra. E ele próprio assume sua interpretação vocal sozinho, mas conta com a certeira flauta de Diana Nascimento, parceira musical do primeiro álbum, sobre a percussão firmada no toque do Opanijé. 


Capa do segundo álbum do artista.

A faixa que encerra o disco é duplamente emocionante. “É Possível, Djalma” é uma homenagem a um dos mais importantes percussionistas da música brasileira, Djalma Correa, feita a ele ainda em vida. Conta com a participação do Mulambo Jazzagrário (projeto idealizado por Grilo), do baterista Thomas Harres e do percussionista Rodrigo Maré, um dos principais aprendizes do mestre, que tocou junto com Djalma e o substituiu em seu último show. Djalma faleceu no final de 2022, aos 80 anos, mas aqui sua história e seu toque ganham dimensão e registro histórico. Não por acaso, ao fim do disco voltamos à fundamental chamada à ancestralidade anunciada em sua abertura, cumprindo um ciclo que fará nascer novas vidas. 


Participaram da gravação do disco nomes de destaque da música brasileira contemporânea, além dos já citados, como Zé Nigro, Pipo Pegoraro, Bruno di Lullo, Pablo Carvalho, Thiago Kobe e Pedro Fonte.  


ouça o álbum “Badoque” em

Spotify, YoutubeDeezerApple Music

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